Arte ainda rodando a cidade
Hoje, 26 ônibus estão rodando a cidade levando na parte da traseira, onde normalmente se encontram propaganda, obras de arte. Trata-se da 2ª edição do Projeto Itinerários, que este ano conta com o patrocínio do Banco da Amazônia e curadoria de Marisa Mokarzhel. Confira o bate-papo com uma das artistas envolvidas, Roberta Carvalho.
JC - Por estarem em ônibus, estas obras vão percorrer tanto o centro quanto a periferia. De que forma você acha que as pessoas vão receber essa arte?
Roberta – Diferentemente do ano passado que foram obras livres, este ano criamos um eixo temático para a produção dessas obras que é justamente a questão centro-periferia. Este ano elegemos este tema para nortear nossa criação por percebemos que passa em diversos públicos. Os trabalhos foram desenvolvidos no sentido de que nossos itinerários e os itinerários dos ônibus perpassam por esses dois espaços. Na verdade, existe uma hibridização desses espaços. Não estão isolados.
JC – Tudo que vocês criaram passa no sentido de que tanto as pessoas do centro quanto as da periferia absorvam a idéia ou não é uma questão para, necessariamente, se fazer entender?
Roberta – Não temos o rigor de nos fazermos entender.
JC - As pessoas estranham. Acontece uma quebra na hora em que o observador percebe que aquilo não é uma propaganda, mas também não tem legenda. Como vocês recebem esse estranhamento?
Roberta – Para a gente, só o fato da pessoa se questionar “isso não é uma propaganda, que diabos é isso?”, já é um dos pontos do projeto. Agora nós entendemos a obra de arte como aberta, então esse entendimento varia de acordo com o indivíduo. No ano passado, nos aproximamos do público para observar como eles entendiam. No trabalho da Keyla (Sobral) um rapaz viu o mangue. O trabalho dela não tem nada a ver com isso, mas ele viu isso porque ele nasceu numa região de muitos maguezais. Não temos como fechar o entendimento, é aberto. Por mais que o artista tenha uma intenção com o trabalho dele, e se ele souber, ele deixa os caminhos para a interpretação, nem sempre é um acerto.
JC – Por que a opção de sair das galerias para ir às ruas?
Roberta – Numa galeria você tem algo em torno de 300 pessoas. Na rua isso cresce exponencialmente. Tínhamos também a intenção de montar um projeto de arte pública que em Belém ainda não se tinha visto.
JC – De que forma vocês acreditam estar contribuindo para a arte em Belém?
Roberta – Já estamos no segundo ano do projeto, é excelente. Ano passado era um ônibus para cada artista e neste já são dois. Pretendemos fazer isso se multiplicar até chegar a cem, duzentos ônibus, e fazer parte do calendário da cidade. Pensamos em transformar isso num “salão”, com inscrição e regulamento, para abrir mais a outras participações. No final desta edição faremos também o lançamento do DVD do Itinerários com os artistas e nossa curadora, Marisa (Mokarzhel), além de documentar a interação do público com o projeto.
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